O setor cafeeiro brasileiro expressa forte preocupação com a sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre o café nacional, em vigor desde agosto. A medida, parte de um pacote de tarifas adicionais anunciado por Washington, pode reduzir a competitividade do produto brasileiro em um de seus principais destinos de exportação, atrás apenas da União Europeia.
De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), se as tarifas forem mantidas, empresas podem direcionar sua produção para outros mercados, colocando em risco o abastecimento de marcas tradicionais norte-americanas. Hoje, mais de 30% do consumo de café nos EUA é de origem brasileira, essencial para manter o padrão de blends de redes como Starbucks, Dunkin’, Folgers e Maxwell House.
Em carta enviada ao Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), o Cecafé alertou que tais marcas podem ser “seriamente prejudicadas ou até desaparecer” caso precisem alterar suas fórmulas. O setor também destacou a relevância econômica do café para os EUA, movimentando mais de US$ 300 bilhões anuais, gerando cerca de 2 milhões de empregos, US$ 100 bilhões em salários e quase US$ 40 bilhões em impostos.
Os impactos já são sentidos: em julho, as exportações de café verde caíram 28,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, acompanhadas de cancelamento de contratos e alta nos preços. Algumas empresas americanas, segundo exportadores, adiaram embarques à espera de definições sobre a tarifa.
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, sinalizou que produtos considerados recursos naturais ausentes no país, como café, cacau, manga e abacaxi, podem ser avaliados para isenção, embora o Brasil não tenha sido citado nominalmente. Internamente, a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) elogiou o Plano Brasil Soberano, lançado pelo governo federal, como medida emergencial para atenuar os efeitos da sobretaxa, sem abrir mão da exclusão definitiva do café da lista tarifária.