Parceria milionária entre China e MST preocupa setor rural brasileiro

A relação entre Brasil e China ganhou um novo capítulo no setor agrícola com a assinatura de um memorando de entendimento que prevê a instalação de uma fábrica de tratores voltada à agricultura familiar. O acordo envolve a estatal chinesa Sinomach Digital Technology Corporation, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Prefeitura de Maricá (RJ) e a empresa brasileira OZ.Earth.

O investimento, estimado em R$ 100 milhões, será destinado à construção de uma unidade fabril entre Ponta Negra e Espraiado, próxima ao Ciamar, em Maricá. A fábrica terá capacidade inicial de produção de 2 mil tratores por ano, em modelos de 25 e 50 cavalos, adaptados para pequenas propriedades. A expectativa é de gerar entre 200 e 250 empregos diretos, além de centenas de vagas indiretas, consolidando o município como polo agroindustrial e reduzindo sua dependência dos royalties do petróleo.

O projeto inclui transferência de tecnologia, capacitação técnica e soluções sustentáveis, como bioinsumos e energias renováveis. Segundo Kelli Mafort, secretária-executiva da Secretaria-Geral da Presidência, a iniciativa é estratégica diante das mudanças climáticas: “É essencial garantir o acesso à tecnologia e ao maquinário adequado à realidade dos agricultores familiares”.

Antes da formalização do acordo, máquinas chinesas foram testadas em 2024 na Fazenda Água Limpa (UnB) e em assentamentos ligados ao MST, com resultados considerados positivos.

A presença do MST na parceria reacendeu debates no país. Críticos apontam riscos relacionados à atuação do movimento em ocupações de terras, enquanto apoiadores destacam sua rede organizada de produção agroecológica e sua capilaridade junto à agricultura familiar.

Para o prefeito Washington Quaquá (PT), o projeto representa um passo importante na diversificação econômica de Maricá: “Muitos agricultores têm acesso ao crédito do Pronaf, mas não encontram maquinário disponível. Vamos suprir essa demanda e fortalecer a agricultura familiar”.