Em pouco mais de um mês de funcionamento, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura irregularidades no INSS já autorizou centenas de quebras de sigilo e iniciou o rastreamento de operações financeiras suspeitas. O objetivo é desvendar um esquema que teria causado prejuízo estimado em até R$ 7 bilhões.
As investigações apontam para irregularidades iniciadas ainda em 1994, quando sindicatos e associações passaram a ter acesso direto à folha de pagamento de aposentados e pensionistas. A partir de 2003, com a expansão dos empréstimos consignados, o sistema se tornou ainda mais vulnerável, abrindo espaço para práticas abusivas e pouco transparentes.
Até agora, foram aprovados cerca de 400 requerimentos, incluindo quase 200 pedidos de quebras de sigilo bancário, fiscal e telemático de entidades, empresas e dirigentes. Documentos também foram solicitados a órgãos como CGU, Dataprev, TCU, MPF e Coaf.
Entre os principais investigados está o empresário Antônio Carlos Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, acusado pela Polícia Federal de usar empresas para aplicar descontos indevidos em benefícios. Ele nega envolvimento. Outro nome em foco é o advogado Nelson Wilians, suspeito de movimentações financeiras incompatíveis com a atividade do escritório que lidera. Durante depoimento, Wilians se recusou a responder parte das perguntas, o que levou o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar, a pedir sua prisão preventiva, decisão que aguarda análise do STF.
Ex-ministros da Previdência e ex-presidentes do INSS também foram chamados a depor. A comissão apura ainda a participação de sindicatos ligados a figuras políticas influentes.
O relator afirma que não haverá blindagem ideológica ou partidária e que novas prisões não estão descartadas. O próximo passo será responsabilizar os envolvidos e propor mudanças estruturais para impedir que práticas semelhantes voltem a ocorrer. Se confirmados os cálculos, trata-se de um dos maiores escândalos recentes envolvendo a Previdência Social no Brasil.