O preço do café, uma das commodities mais importantes para a economia brasileira, atingiu recordes históricos em 2023. A combinação de fatores climáticos adversos, instabilidade cambial e aumento da demanda global impulsionou os valores, criando um cenário de incertezas para produtores, indústrias e consumidores.
Dados do mercado mostram que o preço do café arábica subiu cerca de 80% no ano, influenciado pela redução drástica na previsão de produção brasileira para 2025/26, feita por uma das principais negociadoras globais da commodity. A seca que atingiu estados-chave como Minas Gerais e São Paulo, somada ao impacto climático no Vietnã, maior produtor de café robusta, agravou ainda mais a situação.
Gil Barabach, consultor da Safras & Mercado, alerta que o quadro é desolador para o setor: "A seca afetou de forma severa a safra atual e comprometeu também a próxima colheita. A menor produção nacional pressiona o mercado, criando uma espiral de preços que dificilmente será contida."
Apesar de o Brasil manter o status de maior exportador mundial, com recordes nas vendas externas, a alta volatilidade do mercado expõe produtores a riscos financeiros. Muitos enfrentam dificuldades para honrar contratos futuros devido à disparada nos custos. Em outubro, foram exportadas 4,9 milhões de sacas de 60 quilos, segundo o Cecafé, mas a previsão de escassez ameaça manter os preços em alta pelos próximos meses.
Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio, destaca o impacto econômico global: "A demanda crescente, especialmente da China, pressiona ainda mais um mercado já fragilizado. O Brasil pode lucrar com a alta dos preços, mas enfrenta desafios na cadeia produtiva."
As indústrias brasileiras, que dependem de estoques de curto prazo, também sentem o impacto. Barabach explica que o custo mais alto está sendo repassado aos consumidores, mas ainda há margem para novos aumentos.
No horizonte, a crise do café não dá sinais de alívio. A alta nos preços, que já atinge o maior patamar em 47 anos, acende o alerta sobre a vulnerabilidade da produção agrícola brasileira diante das mudanças climáticas e da crescente pressão do mercado global.